Há muito, queria assistir uma peça teatral do gênero horror. Numa lambada só, assisti a três. Uma cada dia.
A parceria do ator Renato Turnes, com o diretor Jefferson Bittencourt, rendeu três grandes peças, que começaram a ser montadas em 2003 e terminaram em 2010.
O Coração Delator
A primeira encenação, montada em 2003, é uma adaptação do texto de Edgar Allan Poe.
Para mim foi a melhor montagem. Não apenas pelo fato de eu ser fã do cara, mas foi a peça melhor elaborada, tinha mais elementos teatrais, foi a que mais mexeu. É uma história louca que fala de um cara louco, que quer provar que não é louco. Uma loucura só. A trama fala de um indivíduo, querendo provar a todo custo, que seu crime, sem motivo, não fora fenômeno de sua loucura, mas que tudo havia sido meticulado.
Segundo o diretor, o conto era curto demais para ser encenado, eles precisavam de mais elementos, o que fez com que fossem atrás de outras referências do autor, entrando no espetáculo trechos de obras como "O Corvo" e "A Queda da Casa de Usher".
Eu percebi em alguns momentos que essas adições vieram a enriquecer o espetáculo, mas outros momentos, tornaram-o cansativo.
O momento, que penso eu, deveria ser o final, quando o assassino entrega o coração aos policiais, foi o grito de êxtase da peça, a parte mais tensa, forte: o coração pingando sangue nas mãos do personagem dando gargalhadas e a sonoplastia no seu timbre mais agoniante.
Seria um final perfeito para um espetáculo de horror, mas, depois, o personagem volta para a cadeira, senta, coloca o seu soro, encosta deitando na cadeira, senta, deita, senta, o sangue começa escorrer pelo seu braço e vai, vai, continua indo, arrastando-se.
Acabou tirando a agonia que seria fundamental para fazer todos irem para casa em estado de choque.
Outsider
A segunda montagem, de 2005, foi baseado no conto de Lovecraft, outro escritor que adoro, assim como imagino que todos os fissurados em horror, devem gostar desses dois nomes. Alguma objeção?
Este conto, ao contrário do primeiro, teve que ser cortado algumas partes.
A peça inicia na escuridão quase total, apenas a luz da vela, e aos poucos as luzes vão mostrando o ambiente em que o monstro, narrador, se encontra. Na verdade esse local é apenas imaginário, não há cenografia. É sensacional como o espectador (eu), vai criando todo o visual apenas com as palavras do narrador.
Nesta peça esteve mais presente os elementos do terror, como asco, susto. Embora a peça fora muito parada tendo apenas uns pequenos momentos de ápice.
Cansei de escrever sobre este, vamos falar do próximo.
O Fantástico Homem Que Imita A Si Mesmo
Esta última montagem, inspirada na obra do Fernando Bonassi, um escritor contemporâneo brasileiro, foi montada no ano de 2010, encerrando a trilogia.
Para esta, receberam verba, do edital Myriam Muniz, da Funarte, Minc.
Percebe-se que a verba veio pela cenografia e o decorrer da peça. Além de um cenário, feito unicamente para a trilogia, há também o recurso da multimídia.
Agora, infelizmente, tenho que dizer que esta foi a mais pobre das peças, o tema abordado, de uma grande relevância, fora tratado de maneira superficial, não se aprofundando. Muitas cenas apenas por estar ali, sem nenhuma ligação com a dramaturgia.
Aqui (infelizmente) houve uma homenagem direta ao ator Bela Lugosi, que leva o nome da Trilogia. Aparece uma cena do seu último filme, Plano 9 do Espaço Sideral (uma porcaria muito boa, para quem ainda não viu, vá atrás desse filme, com direção de Ed Wood, o pior diretor de todos os tempos, vai perder essa? O ator na sua decadência com parceria do pior diretor da história? Assista, to falando sério.)... É, onde eu tava mesmo? Não liga não, que essas minhas viagens enquanto falo “de verdade”, pode acontecer de vez em quando aqui no blog... Pera um cadinho aí, vou lá olhar onde eu tava...
Já olhei. E você tava lendo, hein! Nem pra me ajudar a dizer que eu tava falando da cena do Lugosi.
Então, recomeçando...
Bela Lugosi aparece através da multimídia, o que é legalzinho, mas sem propósito.O cigarro, me deu vontade de vomitar, também sem propósito.
Vou acelerar, a postagem tá grande demais, daqui a pouco ninguém mais lê...
A peça é parada no início, fiquei esperando um pico, como nas outras, mas niente. É parada mesmo. O final um tanto óbvio e chato, to doido pra falar dele, mas vai que alguém queira ver, vou fazer assim, para quem viu e quem não vai ver, a parte ali de baixo é sobre o final. Pule o parágrafo abaixo se ainda irás assistir (ou pretendes).
Puta merda, terminar a peça sem o ator foi ruim demais, ele dar um tiro no espelho e quebrar foi óbvio demais, até as formigas que corriam pelo chão do teatro sabiam que aquilo iria acontecer. Me desculpa eles poderiam ter sido mais criativos. Podia ser o espelho no momento levantar a arma e atirar no ator. Ou que tal o ator em cena atirar no espelho e o próprio ator cair morto no palco e a imagem do espelho dar gargalhadas? Eles tinham recurso pra fazer qualquer coisa, e acabaram literalmente fazendo qualquer coisa.
Fim do fim dos espetáculo.
No final, a peça serviu mais para refletir sobre seus atos, você está o tempo inteiro fingindo ser um você, ou aquilo que você acha que você deveria ser. Uma pira doida dessas, embora não me excita.
Enfim, a Trilogia como um todo
Pota quéo pareu. Embora eu falei esse monte de coisa ruim aí em cima, se um dia a peça aparecer por aí, não se acanhe, vai lá assistir porque o negócio é bom mesmo.A direção está muito bem feita, as luzes, a sonoplastia (só um adendo de uma partezinha da primeira peça não ter se encaixado direito, mas isso ninguém percebe), a maquiagem (hehehe), tudo como deveria estar, deixo aqui um grande parabéns ao Jefferson pelo ótimo trabalho de diretor e agradeço muito ao Renato pela iniciativa de fazer esse projeto.
Caraca, vocês realizaram um sonho meu, agora eu posso aproveitar o resto dos meus dias lambendo gelo... Tá isso foi esquisito e também não é pra tanto.
Para quem quiser conferir melhor o trabalho da Trilogia Lugosi, entre no site e veja também a bela arte de Koostella, adorei os desenhos. Parabéns a todos do projeto.
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