quinta-feira, 26 de junho de 2014

Em Luto! Pela Cultura

Nesta quinta-feira (25), aconteceu na Câmara dos Vereadores, uma reunião convocada pela vereadora Natália Petry e Fundação Cultural de Jaraguá do Sul. Que se propunha a debater novas propostas para regulamentar a distribuição dos recursos do Fundo Municipal de Cultura.

Tendo em vista o cancelamento do Edital de Apoio à Cultura 01/2013, semanas atrás, a reunião pretendia estabelecer metas de como proceder com a verba do Fundo Municipal de Cultura. Atitude honrosa, chamar a sociedade civil para definição do destino da verba pública, mas antes de entrar nesta questão, há pontos a serem ressaltados, para que você leitor, possa saber mais sobre o assunto que venho questionando.

O edital foi cancelado, após quase seis meses de serem transcorridos todos os procedimentos legais. O motivo dá-se por conta de um artigo do presente edital, no qual consta que o proponente pode auto remunerar-se, este ponto apresenta certas divergências legais e tanto controladoria como procuradoria do município sugeriram ao Conselho Municipal de Cultura o cancelamento do Edital. Não havia outra alternativa?

O cancelamento é uma perda para os artistas que estavam participando do processo de seleção, além de ser também uma perda para o governo, pois afinal para este edital foi gasto dinheiro público, tirado dos cofres, para agenciamento da divulgação, para o pagamento dos pareceristas (avaliadores dos projetos) que vieram de outras cidades e gastaram o seu tempo analisando todos os 154 projetos inscritos. Foi também um descaso com funcionários e todos os envolvidos que trabalharam nesse percurso, e mais ainda, claro, aos proponentes que se dedicaram a escrever seus projetos e a seguir a risca todas as exigências do processo. O tempo corre e aqui estamos, no final do sexto mês do ano, meio ano passou e agora vem o maior prejudicado de todos, você e toda a sociedade, que passou estes seis meses de espera, que passou estes seis meses de tempo gasto e não recebeu os projetos da cultura. Lastimável pensar também, que com este edital cancelado, o dinheiro que já tinha um destino cultural justo, fica agora parado, e possivelmente terá os próximos seis meses do ano também sem receber cultura, esta que lhe é direito, direito este que foi cortado não somente dos artistas, mas de toda a população de Jaraguá do Sul com o cancelamento do Edital de Cultura.

Os artistas ao saberem da notícia tentaram reverter o cancelamento. Um grupo, com cerca de vinte pessoas reuniu-se com o Sr. Prefeito, na mesma semana da reunião do Conselho de Cultura que acabou optando pelo cancelamento do edital. Nesta reunião, o Sr. Prefeito chamou o jurídico para lhe acompanhar e o que queríamos era buscar soluções alternativas para o não cancelamento do Edital. Apontadas as questões do cancelamento pelo Sr. Procurador Rafael, nós artistas ainda tentamos buscar soluções para a continuidade, e chegamos a uma possível medida, na qual o Jurídico afirmou ser possível a continuidade. A questão foi a seguinte: Se o problema do Edital era a auto remuneração, assim sugeriu-se que se nós, proponentes dos projetos, abríssemos mão da porcentagem da auto remuneração para que o projeto possa ser realizado, para que a sociedade possa receber o projeto, há a possibilidade ainda da continuidade do Edital? - Explico: meu projeto tem o custo de R$ 10.000,00 (dez mil reais) e prevê 20% (vinte por cento) de auto remuneração, se eu abro mão de receber este valor, recebendo apenas R$ 8.000,00 (oito mil reais), é possível a continuidade do Edital? - Resposta: Sim. Esta mesma resposta foi ouvida mais uma vez pela Controladoria da cidade, então ainda havia uma esperança de o edital prosseguir.

Aconteceu que na reunião do Conselho Municipal de Cultura da semana seguinte, esta questão foi levantada aos conselheiros, mas ocorre que foi totalmente negada, optando-se pela continuidade do cancelamento. Pergunto: por quê?

Na reunião desta quinta-feira, o Sr. Controlador disse em dado momento, que havia uma medida que poderia ter sido tomada para o edital acontecer, era a possibilidade do proponente abrir mão da sua remuneração, mas, segundo ele, não foi possível pois havia proponentes que não aceitaram. Eu, numa resposta ao Controlador, disse que ele estava equivocado e que este questionamento, nunca chegou aos ouvidos dos proponentes, visto que esta possibilidade foi pura e simplesmente barrada pelo conselho de cultura. A proposta existia, o fato é que o Conselho não levou adiante a proposta, tendo simplesmente a ignorado. E agora eu me pergunto: como o Controlador sabia a resposta dos proponentes se uns poucos artistas é que estavam na reunião do Conselho? Como o Procurador pôde responder por todos? Estaria ele também respondendo por mim? O Controlador em sua réplica alegou que ouviu falar sobre o assunto (na busca de criar eufemismos para sua fala anterior?), disse que não era algo verdadeiro (de fato, falou uma mentira), mas mesmo assim agora não seria mais viável a questão, visto que agora passou-se muito tempo e não havia mais tempo hábil para voltar nesta decisão e blábláblás.

Acredito que o Sr. Procurador foi muito infeliz em suas falas, utilizando-se do diz-que, diz-que, do ouvi falar por aí, não atendo-se aos fatos reais. Sua fala torna-se frágil, uma vez que o Edital poderia continuar existindo com base nas devidas alternativas, e faz surgir os seguintes questionamentos: Se não há tempo para voltar atrás na decisão do Edital, então teria tempo para a abertura de um novo edital? Seria menos tempo começar todo um processo, desde o início, do que finalizar um processo que estava em sua reta final depois de quase seis meses? Ou então como seria a melhor  forma para que esta verba seja utilizada em tempo hábil?

Em vista desses questionamentos, coloco mais alguns fatos para serem refletidos:
1.       Conselho Municipal de Cultura decide em plenária divulgar lista dos proponentes habilitados pela documentação do edital, porém a divulgação desta lista nunca aconteceu;

2.       A reunião para deliberação dos projetos foi marcada diversas vezes pelo Conselho Municipal de Cultura, e no momento da reunião decidem não fazer nenhuma deliberação;

3.       Em parecer técnico por escrito, destinado ao Conselho Municipal de Cultura, Procuradoria e Controladoria apontam que deve ser feito o cancelamento. O detalhe é que esta carta deveria apresentar um parecer técnico, e não recomendativo, mostrando ser muito mais uma carta de ação política e não técnica;

4.       A Sra. Vereadora Natália Petry, já havia marcado a pauta da reunião desta quinta-feira, para discutir sobre o Fundo Municipal de Cultura, mesmo antes do cancelamento do Edital pelo Conselho Municipal de Cultura;

Com base nesses fatos, principalmente este último, seria tão honrosa esta reunião marcada pela Sra. Vereadora e a Fundação Cultural de Jaraguá do Sul? Coloco aqui também situações que percebi, pois estive presente, nas reuniões do Conselho: há visivelmente uma pressão para que haja o cancelamento, não são argumentos, é pressão mesmo, um exemplo disto, é quando uma pessoa do poder público, que faz parte da Fundação Cultural (para quem não sabe o Conselho é instituído metade pela sociedade civil e metade pelo poder público) diz erroneamente ao Sr. Conselheiro Rubens Franco, representante da sociedade civil pelo cadeira do teatro, que se o Conselho aprovasse a continuidade do Edital e se por algum acaso acontecessem problemas futuros, quem teria que arcar com as despesas (no caso quase um milhão e duzentos mil reais) eram os membros do conselho. Inverdades como esta, sem provas, sem baseamento em nenhuma lei, são apontadas aos membros do conselho, para mim, com o intuito apenas de forçar a barra para o cancelamento do edital.

Se o Sr. Procurador parece gostar de colocar diz-que, diz-que em suas falas, assim coloco aqui também os meus: Seria o cancelamento do edital, seguido por esta reunião na Câmera, uma jogada política?
Digo mais, acharam que o cancelamento do Edital passaria em branco pela classe artística, como acabou acontecendo em 2012, quando o dinheiro do Fundo Municipal de Cultura foi destinado ao lixão de Jaraguá do Sul? Será que estão pensando por ai em cancelar o Edital para fazer algo, como aconteceu em 2012, dando um novo destino ao Fundo Municipal de CULTURA? Será que ele pensa em jogar o dinheiro da cultura, figurativamente e literalmente no lixo? Pois isso é o que nós artistas somos ante os olhos de muitos, o lixo da cidade, apenas o resto. A verba da cultura é só da cultura, mas afinal quem é que precisa de cultura? Cultura pra quê? Fazer o povo refletir é perigoso, não é?

Então coloco um pouco o povo para pensar aqui comigo, primeiro refletimos, depois agimos. Depois de muito refletir, abro estas questões publicamente. Gostaria da reflexão de todos, da sociedade que parece estar sendo sempre enganada, aos meus amigos artistas que sentem indignação com acontecimentos como este, mas que na hora de tomar decisões importantes ficam com um pé atrás, ou aceitam tudo o que lhes é falado sem questionamento. Questionar é o que nos faz sermos humanos, é o que nos diferencia dos animais irracionais, e não o pensar. Um cão pensa, com o tempo ele aprende que o lugar do xixi é na rua, que não deve roer o calçado do dono, é só ensinar que ele aprende. Ele sabe que você manda, pois ele pensa e quando pensa sabe que você é quem o alimenta, quem lhe dá carinho e sabe que o melhor a se fazer é obedecer. O que o cão não faz é questionar se é correto ganhar ração três vezes ao dia, se é correto ficar trancado, ele aceita. Aceita pois não questiona. Questione para não ser aprisionado por uma coleira.

Agora em tempos de festa junina parabenizo a cultura destas festas com um mini-poema às quadrilhas:

Um pé que não avança
Quadrilha que não dança.

Thiago Daniel
Diretor teatral, músico e escritor

26/06/2014

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